sábado, 23 de maio de 2009

Despedida

Ao ler uns posts do Herdeiro de Aécio sobre alguns dos primeiros Presidentes dos Estados Unidos, lembrei-me da mensagem de despedida do primeiro deles (George Washington).
Trata-se de um texto escrito em colaboração com Hamilton que foi publicado em 19 de Setembro de 1796 no American Daily Advertiser; depois foi publicado, a 26 do mesmo mês, no The Independent Chronicle.
Washington não era homem de grandes discursos mas era um homem atento e conhecedor das coisas e das pessoas do seu País. A idolatria que hoje existe em volta da sua figura não era, de maneira nenhuma, partilhada pelos seus contemporâneos (o sempre deleal John Adams chamava-lhe Old Muttonhead), talvez porque eles o conhecessem melhor. Militar prestigiado pela sua capacidade de organização e de estratégia (como um seu sucessor, Eisenhower) e não pela sua luta (em nove batalhas, ganhou três), político federalista desde início, foi um dos Foundig Fathers dos EUA.

O respeito e a admiração pela obra que ajudou a criar estão patentes nesta sua mensagem de despedida.
Manter sempre a União; não gostava do bipartidarismo nascente porque achava que podia enfraquecer a Nação; evitar compromissos diplomáticos duradouros e, principalmente, evitar meter-se nos problemas dos outros; por último, um governo laico, de leis, à boa maneira de Locke, mas com moral.
Tudo isto no respeito por uma Constituição que a História iria fazer crescer.
Muito mais se pode dizer e ler sobre este homem; basta procurar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Vínculo e veículo


Um amigo, que sabe que eu gosto das coisas das ilhas, emprestou-me a História dos Açores, publicada pelo Instituto Açoriano de Cultura.
São dois grossos volumes que, tudo me indica, vale a pena ler. Comecei a ler e logo tive um susto.
No 1.º capítulo da Parte I (O descobrimento dos Açores), o autor, Rui Carita, escreve a certa altura: a «descrição deste reconhecimento vinculada por Gaspar Frutuoso e por António Cordeiro, coincide em linhas gerais com a vinculada pelo misterioso cronista Francisco Alcoforado» (vol. I, p. 54). O meu ouvido ficou ferido porque o som não correspondia, de forma alguma, à ideia que me parecia que se quisesse transmitir (ou veicular).
Vinculada ou veiculada?
Pensei que se tratasse de um erro de impressão (qual?) ou de falta de cuidado na revisão do texto. É que vincular, embora parecido, nada tem que ver com veicular.
Fui procurar nos meus dicionários de Língua Portuguesa e encontrei, para vincular, os seguintes sentidos: ligar, atar prender, impor, segurar (GDLP, t. VI, p. 589 de João Pedro Machado); encontrei também coisa igual no Houaiss (t. VI, p. 3708).
Em sentido diferente, e nos mesmos dicionários, encontrei o significado de veicular: meio de transporte, transmitir ou fazer a difusão de, propagar, transmitir (p. 546 e 3674, respectivamente).
Parece-me, pois, que houve aqui algum engano ou na redacção ou na impressão.
No entanto, a mesma expressão, e no mesmo contexto, é repetida na p. 56: a «história é contada pelo padre Gaspar Frutuoso e vinculada depois pelo padre António Cordeiro».
Ou seja, e segundo me parece, trocou-se um verbo por outro quando apenas se passa que eles foneticamente têm alguma semelhança mas não de conteúdo. O historiador, qualquer historiador, pode veicular, transmitir uma opinião sobre determinado evento mas isso não nos vincula a coisa nenhuma, essa opinião não é imperativa.
Repito que não sei o que se passou neste caso em concreto; mas sei que a um professor catedrático isto é quase impossível de acontecer; da mesma maneira que sei que os dicionários também não se enganam nas questões das palavras.

P.S. Gostei de ver os isqueiros dos Beatles.
Obrigado.