terça-feira, 30 de junho de 2009

Grandes livros

Tive a sorte de começar a ler cedo e de lhe ter apanhado o gosto.
Claro que primeiro, além dos livros da escola, foi a banda desenhada. Lia tudo o que apanhasse quer fosse dos irmãos mais velhos quer dos amigos.
O primeiro livro a sério que li foi, como acho que não podia deixar de ser, dos Cinco (Nova Aventura dos Cinco).
Mais tarde fui lendo os outros da mesma colecção e comecei a ler os Sete.
Gostei menos mas ainda assim lá os li.
Mas houve uma colecção que me encheu as medidas: Gente Grande Para Gente Pequena.
São pequenas biografias de pessoas tão variadas como Luís de Camões, Fernão de Magalhães, Serpa Pinto, Gutenberg, Wagner, Madame Curie, etc. e tal.
O seu autor era Adolfo Simões Müller e escrevia para crianças e jovens (vim depois a saber que a ele se deve a apresentação de Tintin em Portugal).

De toda a colecção, os que mais me impressionaram e os de que mais gostei, foram O Capitão da Morte, O Grande Almirante das Estrelas do Sul e O Homem das Mil Invenções.
O primeiro trata de Robert Scott, o segundo homem a chegar ao Polo Sul e que morreu perto desse local e nessa expedição.
Claro que não se fala do mau feitio de Scott, antes se enaltece a vontade de vencer e para mais na derrota.
O segundo trata de Gago Coutinho, o aviador que, juntamente com Sacadura Cabral, fez a viagem Lisboa-Rio de Janeiro em 1922 de avião. Melhor será dizer de «aviões» pois que foram utilizados três aparelhos.
O terceiro trata de Tomás Edison, o genial inventor.
Acho que foi deste livro que gostei mais. Lembro-me da parte em que ele é salvo por um homem do comboio (onde tinha instalado já o seu laboratório) agarrando-o pelas orelhas e lembro-me também da parte em que ele aceita fazer um anúncio a uma casa de chá: só tinha que estar na montra a beber chá constantemente e a sorrir o tempo todo!
Mais haveria a dizer mas agora fica só a capa de O Capitão da Morte
Boas leituras!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Frases de jornalistas

Algumas frases utilizadas pelos profissionais do jornalismo e o que as mesmas frases querem dizer.
1- Telefonou-me ontem o Dr. X…
Consegui, à sétima tentativa, que o Dr. X viesse ao telefone
2- Não posso dizer quem me deu a notícia.
Disseram-me na Brasileira.
3- Corria ontem em Madrid o boato…
Ontem em Madrid não corria nenhum boato mas, agora, é natural que passe a correr.
4- Almocei ontem com o Dr. Y.
Vi o Dr. Y no restaurante onde eu estava a almoçar.
5- Fontes geralmente bem informadas…
O empregado do meu cafá.
6- O nosso correspondente em Marselha…
Aquele tipo de Marselha que escreve para todos os jornais.
7- Como previ há 5 anos.
Ninguém se lembra do que eu dissa há 5 anos.
8- Não trataram o representante da imprensa com o devido respeito…
O porteiro não me deixou entrar de borla.
9- O senhor sabe com quem está a falar?
Ou faz o que eu quero ou invento uma patranha a seu respeito.
Do Almanaque de Fevereiro de 1961 pp. 47-48

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Uma biografia


Acabei de ler a biografia de Marcello Caetano.
Não é bem uma biografia mas antes um conjunto de comentários e factos a respeito de uma pessoa. Como biografia, parte de um pressuposto singular: que o leitor conheça já a vida do biografado. Ou seja, quem não a conhecia e lê este livro pouco mais fica saber.
Existem três ou quatro erros sem grande importância mas que são irritantes e mostram falta de atenção. Por exemplo: falando de Timor (e logo de Timor, que fica no Pacífico), a autora diz duas vezes (88 e 90) que a 2.ª GG acabou em Maio de 1945. Não é certo.
Fala, a certa altura, e talvez por graça (não se percebe o contexto) ou apenas a título de curiosidade, do «marcelino»; mal pois que o nome, conforme sabe António Miguel Trigueiros (p. 196), é «marcelinho».
Da vida académica de MC pouco é, realmente, contado. Aliás, não deixa de ser curioso que a autora publique cópias das capas de alguns livros mas não a daquele que o iria tornar uma figura ímpar do se. XX português (e não apenas político):

Entre 58 e 68, MC foi o que melhor podia ser: professor. Mas sobre isto, no capítulo intitulado «Magnífico Professor», a autora apenas reproduz o depoimento de algumas pessoas. Nada conta sobre o que ele foi escrevendo, as conferências que deu, as investigações que levou a cabo, etc. Ficamo-nos só e muito pela rama.

Ainda neste âmbito profissional, teria interesse saber algo mais do que o próprio conta nas suas Memórias e que a autora reproduz no livro (p. 62-63). Por exemplo, que professores compunham o júri, qual o seu percurso político, qual a sua atitude face à Ditadura. Ficaríamos a conhecer melhor a FDL de então e perceberíamos melhor o interesse destas provas. Também a respeito do encerramento desta faculdade, a autora nada diz; apenas o refere. Da mesma maneira a greve ao estágio: as razões, as pessoas, os factos.

Biografia mesmo, só os capítulos sobre as raízes de MC e o tempo de exílio no Brasil. Ainda assim, algo mais haveria a dizer.

Em suma, como biografia (e tem, a editora, a lata de chamar a isto «A biografia completa») é bastante pobre.
Eu seu que eu não faria melhor; mas de certeza que não chamaria a isto uma biografia.