sábado, 13 de dezembro de 2008

Nota do Tradutor



As Notas do Tradutor são sempre úteis.

Em determinados termos, deixam o texto incólume (palavras ou expressões cujo significado preciso é na sua língua original que se capta), noutros deixam a impressão da solenidade do termo (organismos estaduais) e noutros... não são tão úteis nem esclarecem nada do texto traduzido.

Li recentemente um livro já antigo (o original é de 1987) de ficção (o resumo pode ser aqui consultado mas não aconselho; vale mais ler o livro) que trata de uma aventura em volta da não ocorrência da morte de Hitler, no bunker (esta também é daquelas palavras que não são traduzidas), de Berlim em Abril de 1945.

O tradutor chama-se Carlos Peres Sebastião e Silva.

Em algumas notas, não traduz só. Dá informações que não são pedidas (por exemplo, p. 25) ou sequer interessantes para se perceber o texto (p. 209).

Mas em duas notas ele vai muito mais além do que se pede a um tradutor.

Na pág. 261, no texto, refere-se que o Papa Pio XII tinha no início da guerra, provas concretas dos campos de morte e da sua função. Trata-se, note-se bem, de um diálogo entre duas personagens de um romance de ficção. Surge a surpreendente N. do T.: «Os campos da morte nazis só foram implementados a partir de 1942, em plena guerra, portanto. Esta afirmação (e as subsequentes) do autor em relação ao Papa é assim totalmente desprovida de sentido».

Não me interessa se este facto é verdadeiro; o que me interessa é que isto não tem nada a ver com a tradução.

Na pág. 645, surge a melhor.

Já não estamos na história, o romance já acabou. Trata-se uma nota do autor sobre o livro que ele escreveu e que acabamos de ler: «É irónico que Estaline, o simpático aliado a que os americanos chamavam Uncle Joe, provavelmente tenha ultrapassado em muito Hitler quanto a número de mortor de que este foi responsável, naquilo a que o grosseiro georgiano chamava “trabalho molhado”». Depois disto, vem a respectiva N. do T.: «Segundo alguns historiadores e dissidentes russos como Alexandre Soljenitsine, o número de mortos às ordens de Estaline poderá oscilar entre um mínimo de 28 milhões e um máximo de quase 50 milhões de pessoas o que faz de José Estaline o maior carniceiro da História».

De novo, não me interessa se isto é ou não verdade; o que me interessa é a tradução.

E o que é que isto tem que ver com a tradução?

Trata-se de um tradutor ou de um comentador?

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