Bô
Bô é um tempo
De giestas agrestes
Que crescem nas mãos áridas e rudes
Do povo transmontano.
Bô, é o reino maravilhoso
Da silenciosa solidão.
Bô, é um vento frio
Que fustiga o campanário hirto e forte da igreja.
Bô, é um dia de festa, mas um só dia,
Na romaria emigrante,
Com muito dinheiro suado
E com alfinetes espetado
No andor do santo, cego e mudo
o povo
aos ombros,
pelo povo, é levado!
Bô, bô,
Tanto bô e bô tanto por nada.
O bô é nosso!
De mais ninguém!
Bô, é um grito
Fechado de liberdade.
Mesmo que os finos
Portugueses de Lisboa
Nos acusem de dizer Bô
Por tudo e por nada,
Nós diremos:
- Bô, isso é mentira!
Carlos Moreno
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